domingo, 27 de novembro de 2011

SEGREDOS PARA VIVER BEM


Francisco Miguel de Moura*

Começo citando meu querido amigo, escritor Homero Castelo Branco, de quem já discordei de alguma coisa, no passado, mas jamais vou discordar do que escreveu no frontispício de seu livro recente: “A vida se move sempre à mercê de ventos imprevisíveis”. “Ventos Imprevisíveis” é o nome do livro dele, editado este ano, o qual estou a ler.

Por isto é que a vida é segredo. É o futuro que se faz no presente. E a ninguém é dado prever o futuro, por mais que digam as sibilas, os adivinhos. Alguns desses segredos passam por estas quatro palavras: apatia, simpatia, empatia e antipatia. Com o desenvolvimento desta matéria elas vão sendo sugeridas. Precisamos conviver com o mundo físico e com as pessoas. Com o mundo físico, pouco há que fazer, salvo algumas pequenas escolhas, pois tudo está dado à nossa revelia: é a natureza. Com as pessoas, o segredo do bem viver é a convivência pacífica, seja na vida conjugal, na vida comum da rua, no meio social, seja até mesmo a convivência consigo mesmo. Tudo isto se traduz em idéias, dúvidas, saber, falhas e virtudes. E tudo isto podemos fazer, desfazer, refazer, como aprendizado.

Diz-se que a perfeição é virtude de Deus, nunca dos homens. Deveríamos, então, abandonar o ideal da perfeição, pelo fato de não sermos deus nem mesmo de nós mesmos? Nunca. Nosso ideal deve ser o da bondade, da justiça, da perfeição com liberdade. Se, por exemplo, um motorista, por imperícia, mata alguém no trânsito, mesmo que fique sem a punição devida, aceitamos que sinta remorso por isto, não continue atropelando a Deus e o mundo por aí a fora, e não o contrário. A tendência (e a obrigação moral) é arrepender-se pelo errado que se pratica. E todo mundo sabe o que é errado: desde a criança até o velho. Quem mente, furta, rouba, falsifica, trafica, assassina e não sente nenhum remorso não é propriamente humano, tem antipatia pelo ser humano. Pode ser um ente criado por Deus. Mas é um desumano. Agora, quem é caridoso e generoso cultiva a vida, tem simpatia pelo seu semelhante. E já disseram os poetas populares, em versos famosos, que “simpatia é quase amor”. Situado nesse caminho, ocorreu-me a outra palavra, a mais potente entre as citadas: empatia. O amor mesmo está entre a simpatia e a empatia. Maior que a empatia, somente o amor – um sentimento imenso, bem difícil de ser explicado.

Restou a apatia. Os apáticos são os preguiçosos, os que não avaliam a vida, não gostam da vida – nem da própria, não têm esperança. Logo, não têm futuro. Desses, pouco temos o que dizer. São o chamado peso morto. Mesmo assim são humanos. Mais humanos do que os criminosos, os desordeiros de todos os tipos.

Mas ainda restam algumas palavras sobre a empatia. O que é mesmo a empatia? Vamos ver se alguém me diz, porque nós sabemos intuitivamente, mas ainda não conseguimos formalizá-la, esclarecê-la em palavras. Vem do grego emphateia, que significa paixão. O Dicionário Periberam de Língua Portuguesa acrescenta: “Forma de identificação intelectual ou afetiva de um sujeito com uma pessoa, uma idéia ou uma coisa”.

Essas elucubrações me vieram à tona a partir da leitura de um artigo denominado “O segredo do casamento”, de Stephen Kanitz (Veja, 14/9/2005), que quase termina assim: “Não existe esta tal de estabilidade do casamento, nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos”. Aliás, tudo muda, já dizia o velho Camões. Portanto, a adaptação às mudanças e a convivência com os diferentes são as duas regras básicas de conhecimento e prática. E com muito amor. Sem amor não há vida inteligente na terra.
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*Escritor brasileiro, mora em Teresina, PI.
E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com

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