sábado, 2 de julho de 2011

UM POETA EM SUA PRAIA - CRÔNICA



Francisco Miguel de Moura*


Possuímos uma casa em Amarração, praia de Luís Correia, norte do Piauí, durante cerca de 20 anos. Naquele tempo, a gente viajava nos começos e fins de mês, sem contar as temporadas de julho e janeiro, quando ficávamos curtindo, todo o mês, a linda, limpa e mansa praia de Amarração. Depois, nossas idas foram rareando, a idade avançava, muitas outras coisas aconteciam... E como as despesas de manutenção da casa iam sempre a crescer, resolvemos vendê-la. Esperava-se, também, um desenvolvimento mais acelerado da região, que não aconteceu: porto, estradas, urbanização da cidade e das praias, nada vinha. Tudo continuava no mesmo ponto estacionário: o abastecimento de água, a inconstância da eletricidade, os canais de tevê sem sinal... Por algum tempo, demos costas à nossa praia, como se estivéssemos cansados dela.

Mas, um dia destes, meu filho Júnior convida a irmos passar a Semana Santa lá, na praia. Uma maneira de as famílias ficarem juntas, gozando suas delícias, agora já urbanizada recentemente, à maneira das demais que conhecemos: Fortaleza, São Luís, Salvador. Ele encarregou-se de arranjar os alojamentos: um apartamento na Colônia de Férias da OAB e um chalé na Colônia de Férias do Sindicato dos Bancários. Não dava pra ficar todos juntos, num prédio. Numa manhã tranqüila, saímos. E, logo de cara, enfrentamos os percalços do trânsito, numa manhã de grande chuva. Dirigindo devagar, parando o carro onde alguém desejava fazer uma necessidade ou tirar uma foto: ele, Miguel Junior, dirigia o seu “Renault”, onde se acomodavam Ana, Tainá, Tairine e Jéssica; e eu dirigindo o meu “possante" Clio, com Mécia e Mecinha – por coincidência ambos os veículos comprados recentemente na Via Paris.

Graças a Deus, não houve nem acidente nem incidente, chegamos na hora e dia aprazados, em paz. Almoçávamos juntos e juntos fazíamos a última refeição do dia. Por isto esta crônica nem devia existir: Se nada acontece, nada se conta. Mas, não. De acordo com o que penso ser um incidente, houve um. Um incidente coincidente. Foi na hora das fotografias. Tiraram-se tantas fotos nessa viagem quanto na de um rei ou de uma rainha da Inglaterra. Encheram o computador. Passam-se horas para que sejam apreciadas todas. Eu sempre digo que não quero ver fotos minhas dos anos 1980 para cá, fico com as dos anos 1970 e seguintes, para trás. Não é necessário ser bonito, a beleza só é fundamental porque tem seu fundamento na plástica e esta não se mantém fora do tempo – que pouco dura. Assim, mesmo os feios – eu sou um deles – se comprazem na juventude, na frescura da mocidade e em parte da madureza, quando tudo é verde, alegre e tem graça, por isto é que os sorrisos merecem lugar especial. A beleza, no sentido em que Vinícius usou a frase, rouba muito do frescor da mocidade. Beleza sem saúde e mocidade não é fundamental. Nunca me enganei.

A permanência em Amarração, na Semana Santa, foi ótima, mesmo estando eu sofrendo de uma depressão que não me deixa em paz. Para espairecer, saímos na noite, por insistência do Júnior, para ver praia, o calçamento, as construções que a contornam, sentir a beleza da lua, o gosto da brisa trazendo os fluídos do mar. Ele nos foi mostrando as paisagens, desde a parte ocidental onde ficará o porto até o oriente onde fica a praia do Coqueiro, foi nos mostrando os encantos da terra, depois o trabalho de Deus e do último governador. E por onde a gente ia, a máquina fotográfica trabalhando... Sentamos num daqueles bancos normais de toda praia, como o de Copacabana onde sentou Drummond e foi fotografado, cuja imagem deu origem ao monumento, na bela cidade do Rio de Janeiro. Assim, quando menos eu esperava, lá me perpetuavam em foto, quase na mesma posição do Drummond, sentado num banco, de costas para o mar.

- Tirei uma foto sua, pai, como aquela de Drummond.

- Mas eu não sou Drummond, eu sou o “Chico Miguel, o poeta do Piauí”, como escreveu o escritor, médico e filósofo Eduardo Maffei, um dos maiores amantes de Teresina e quem primeiro fez uma reportagem sobre a Pedra do Sal, publicada pela revista “O Cruzeiro”.

Não poderia esquecer, aqui, também o inolvidável cronista de Teresina, mestre A.Tito Filho, que me dizia: “Você é o Drummond do Piauí”. Se escreveu nalguma lugar, não sei. Mas vale lembrar a frase agora, uma bela ocasião para comemorar a poesia. Por isto, embora gostando do elogio, continuo a dizer que “sou muito eu, respeito o mestre, mas sou diferente”.
http://cirandinhapiaui.blogspot.comhttp:/abodegadocamelo.blogspot.com
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, poeta e cronista, mora em Teresina, Piauí.

Um comentário:

Clemilde disse...

Olá!
Fiquei feliz com sua visia.
Seu blog é muito bom. Adorei as receitas e gostei muito das crônicas.

Só fiquei curiosa. Não me lembro mais qual receita peguei de você. Com certeza vou fazer outras e te aviso,

Beijos