AS MUDANÇAS DO NATAL
francisco miguel de moura
Abriu-se a janela:
No emaranhado de folhas
um sol resplandece
regina ragazzi
Machado de Assis termina um poema com esta chave de ouro: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”
É preciso meditar sobre isto. Todos nós mudamos. E a festa do
nascimento da mais sábia, bela e doce pessoa que veio mundo – Jesus
Cristo, o filho de Deus? O fato histórico não mudou, o comportamento
dos homens é que mudam com as circunstâncias do tempo. Sobre os natais
de quando eu era criança, não vou falar: ninguém vai querer ler nem
ouvir, quanto mais acreditar.
Comecemos por hoje. Algo que me aborrece por esta época é o verbo
“comprar”. Tudo vira propaganda, tevê, internete, lojas, carros de som
nas ruas. Os “shoppings”, então!... Mostram o Papai Noel, a
Árvore de Natal. São os símbolos. Até as livrarias. Entrei numa delas, a
melhor da cidade, e o que encontro bem de frente? Uma árvore de Natal
formada por uma pilha de livros. Até aqui tudo bem, deveria ser muito
interessante. Mas, depois de observá-la, não me convenceu de forma
alguma. O título do livro, daqueles volumosos, 300/400 página, eram um
só, e o autor um só. Não me demorei ao pé porque vi que se tratava de um
tremendo “best seller” tipo americano, que certamente são romances de
bruxas ou de vampiros – assuntos que enchem as prateleiras das lojas
para iludir os tolos. Os tolos que eu digo são aqueles maus leitores que
compram o livro exclusivamente pela propaganda da mídia. A mídia quer
vender, ela não tem nenhum interesse em que os leitores, pensem, sintam,
cresçam com histórias que têm lições de vida, de gente, de almas,
quando não tratam de tempos passados e traçam a história com algumas
descobertas empolgantes (no caso dos livros históricos).
Se a pilha fosse de Bíblias, livros de proveito e exemplo para crianças e
adolescentes, alguns clássicos antigos e modernos – que tantos há e
ficam encalhados, escondidos nos lugares mais difíceis da loja, parece
que para ninguém vê-los nem ter vontade de abrir e ler uma página
sequer, seria louvável. Aponto livros de criança porque Natal é festa
muito especial para crianças, festa de nascimento.
E qual o nascimento que se comemora na data de 25 de dezembro? De
Jesus. Ele nasceu em Belém da Judéia e se tornou (ou já era?) a pessoa
mais importante do mundo em que o Império Romano pagão dominava com suas
guerras. Jesus viveu com seus pais em Nazaré, sua aldeia e aprendeu
tudo com Maria e José. Ficou trabalhando com este, na oficina de
carpinteiro, até os 12 anos.
Registra o evangelista Lucas: “Seus pais iam todo ano a Jerusalém
para a festa da Páscoa. Tendo ele atingido os doze anos, subiram a
Jerusalém, seguindo o costume. Acabados os dias de festa, quando
voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais
percebessem (...) Três dias depois o acharam no Templo, sentado no meio
dos doutores, ouvindo-os e os interrogando. Todos os que o ouviram
estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas”.
Nem todo mundo é católico, mas não pode desconhecer a história
edificante de Jesus, o quanto pregou aos povos do seu tempo. Sem ser
revolucionário político, dizia “não vim revogar a lei de Moisés, mas
apenas aperfeiçoá-la”. De suas pregações, o “Sermão da Montanha”
é o mais conhecido pela sabedoria que encerra em poucas palavras. Sua
revolução foi trazer à humanidade o mandamento do amor. Antes, com os
judeus, tudo era na base do “dente por dente, olho por olho”. O papa Bento XVI, em seu livro sobre a “Infância de Jesus”, entre outras coisas, retifica que “Maria deu à luz a Jesus entre 7 e 6 anos antes de Cristo”.
Daí trazer a revista VEJA, de 28 de novembro de 2012, uma reportagem
com o título “JESUS NASCEU ANTES DE CRISTO”. Explique-se: a Era Cristã, o
ano nº l, começa depois do nascimento de Jesus, em virtude da confusão
do calendário gregoriano, feito vários séculos depois do
nascimento de Jesus. A retificação leva em conta a tradição, os
evangelhos e a conjugação destes com a estrela “supernova”, cuja explosão aconteceu coincidentemente com a visita dos magos do Oriente ao menino Jesus.
Agora, a pergunta: - Por que não comemorar tão grande feito, o de Jesus,
o seu nascimento, em lugar de colocar um tal de Papai Noel que vagueou
pelas névoas da Rússia e adquiriu outros costumes e hábitos que não são
os da nossa tradição oral e escrita, ocidental e bíblica?
Porque o materialismo alijou os sentimentos da alma, dominada por uma
civilização global, descartável, em que tudo se troca pelo poder e pelo
dinheiro, na qual parece ridículo ser religioso, acreditar em verdades
eternas. Muitos que invocam, hoje, o nome de Deus, o fazem em vão. Sobre
o amor, meu Deus, quem já não viu e ouviu tanta barbaridade, nestes
tempos de idéias tão grosseiras, tão sem rumo?! Os filósofos se foram,
os poetas estão indo, e os santos?... Quantos são os santos? Sabemos
quem são os pecadores: aqueles que não cantam o poder de Deus e da
Natureza, que não pensam numa eternidade, numa vida diferente depois da
morte. E por isto abraçam a guerra, as orgias, os vícios desde os mais
simples aos mais torpes. Não têm nem um pouco de humanidade. Quem quer
saber de uma comemoração bem comportada do Natal? O Natal histórico e
religioso não mudou, repito.
Começamos com Machado e com ele terminaremos a nossa crônica. Esse
grande escritor, no leito de morte, olhando uma nesga de céu pela janela
ciciou para seu melhor amigo e confidente: “A vida é boa”.
Deus, sendo como é a fonte da vida deve tê-lo perdoado. A nostalgia do
homem é não ser Deus. Mas somos um pedaçom de Deus, somos filhos de
Deus, irmãos de Jesus, seu filho querido e escolhido para vir salvar o
mundo, com a pregação do amor. Natal é amor. Não é troca. Portanto, a
melhor atitude diante do Natal é saudar o próximo, os visinhos, a
família e comungar a vida, a natureza e a sociedade humana, mirando-se
na sabedoria e santidade de Jesus.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta e cronista brasileiro, mora em
Teresina - Piauí e envia votos de Feliz Natal e Próspero 2013, com
abraços a todos os seus leitores, juntamente com a responsável por este blog, Maria Mécia Morais Araújo Moura, esposa do autor desta crônica.
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